sábado, 19 de novembro de 2011

SIMPÁTICO

Sentado, ele olhava a paisagem pela janela do ônibus. Usava fones nos ouvidos.
Uma mulher que estava sentada ao seu lado, o cutucou e disse:
- Eu não ‘tou conseguindo ouvir.
Ele olhou para ela, fez um gesto para indicar que não tinha entendido.
Ela o cutuca novamente e repete:
- Eu não ‘tou conseguindo ouvir.
Tirou os fones dos ouvidos.
- O que a senhora disse?
- Que não ‘tou conseguindo ouvir.
- O quê?
- O que ‘cê ‘tá ouvindo.
- Isso deve ser porque os fones estão nos meus ouvidos, não? – ironizou.
- Sim, claro. Mas mesmo assim, sempre dá pra ouvir um pouquinho. Eu gosto de saber o que as pessoas ouvem.
- Ah. – disse sem mostrar nenhum interesse. - Acontece que a senhora não ‘tá conseguindo ouvir porque eu não ‘tou ouvindo nada. Na verdade, eu detesto música! ‘Tou apenas com os fones.
- E por que faz isso? – perguntou curiosa.
- Para evitar que as pessoas puxem conversa comigo. Odeio falar com desconhecidos. Não tenho paciência e nem gosto de parecer simpático.
Ela deu um sorriso forçado. Olhou à sua volta, viu um lugar vazio e foi sentar lá.
Ele colocou novamente os fones nos ouvidos e continuou a observar a paisagem pela janela. Em silêncio.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

DUPLO

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sábado, 5 de novembro de 2011

OS OLHOS MAIS TRISTES DO MUNDO

- Você é feliz? – perguntou assim, à queima roupa.
A pessoa que levou o tiro-pergunta, que por sinal, não o conhecia – só estava sentada ao seu lado por mera casualidade da vida –, olhou para ele, para ter certeza s’ele falava com ela ou se falava sozinho.
Aproveitando qu’ela olhava pra ele, repetiu a pergunta:
- Você... É feliz?
Ficaram por um tempo se olhando. Um tempo dilatado. Que se estendia além do habitual.
A pessoa percebeu qu’ele tinha os olhos mais tristes do mundo. Depois se perguntou como sabe isso já que não conhece todas as pessoas do mundo. Mas numa súbita convicção, disse a si mesma que, se conhecesse todas as pessoas do mundo, com certeza, ele teria os olhos mais tristes de todas.
- Não sei. – respondeu cheia de hesitações.
- Eu não sou. – disse. - Você é feliz? – perguntou mais uma vez, ignorando a resposta anterior.
- Já disse, não sei. Acho que não é uma coisa constante. Tem dia que ‘cê ‘tá, e dia que não. Não dá pra ser o tempo todo. Eu acho.
- Eu não sou. – repetiu.
- E o que é que te faz infeliz? – perguntou e se surpreendeu consigo, pois detestava conversar com estranhos.
- Eu não sou infeliz.
- Mas você disse que...
- Disse que não era feliz.
- E...?
- Não sou infeliz. Apenas me falta felicidade. Vejo casais de mãos dadas; crianças correndo atrás de borboletas ou de outro bicho qualquer; homens de negócios dentro de seus carros importados indo, às pressas, para alguma reunião; cachorros roendo ossos; religiosos indo para seus templos... Todos, ao seu jeito, dentro do que anseiam, sentindo-se felizes.
Ficou em silêncio por um tempo, depois continuou:
- Eu, não.
Os olhos mais tristes do mundo brilharam, mas não pareciam que iriam chorar. A pessoa teve medo que isso acontecesse, pois não saberia como deveria reagir.
Pensou que, se falasse uma frase de efeito, talvez, pudesse ajuda-lo. A frase não veio.
Continuaram em silêncio.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

O FIM

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