Para ler ouvindo "Nocturne Op. 9 nø 2" de Chopin:
http://www.youtube.com/watch?v=YGRO05WcNDk
- Você sempre estará bem guardado no meu coração. – e assim, ela desligou.
Ele permaneceu sentado olhando para o telefone. Pensou se aquele era o
momento de apagar o contato dela da agenda. Depois “espanou” a ideia como quem
afugenta um inseto. “Uma muriçoca”, ela diria.
De nada adiantaria, pois ele tinha aquele número impregnado nele assim
como o perfume dela, o sorriso, o jeito que arrumava o cabelo e tantas outras
coisas.
Quando finalmente conseguiu levantar só tinha em mente um único lugar
para ir: um bar.
Nunca recorreu à bebida para “resolver” problemas, mas, tinha a certeza,
que só a bebida acalmá-lo-ia.
Como a pessoa sensata que era, começou elencar todos os prós e contras
daquela relação e chegou ao cruel resultado de um empate.
Tanto a amava, quanto a odiava. Tanto precisava dela, quanto queria viver
só.
A dor, sua velha companheira, estava lá, fazendo-o remoer toda
possibilidade de felicidade não vivida. Queixar-se de tudo que tentou e ela não
permitiu. Arrepender-se de tudo o que ela quis e ele negou-lhe.
“Vou-me embora desta cidade!”, pensou num rompante como única
possibilidade de fuga do sofrimento.
“De que adianta ir embora daqui, se carrego comigo meu coração!”,
constatou derrotado pela certeza de um longo e doloroso sofrimento.
Lembrou mais uma vez de seu sorriso e perguntou-se se ela estaria
sorrindo naquele momento... E foi quando teve a revelação: tudo o que mais
queria, era a felicidade dela. Portanto, se ela – em algum lugar – estava
sorrindo e feliz naquele instante, ele também deveria estar feliz.
Ergueu o copo, brindou à felicidade dela, tragou a bebida – que lhe pareceu
insípida –, pagou a conta, levantou-se e saiu.