quinta-feira, 7 de março de 2013

SOU MULHER!


Sou Eva
Sou Maria
Sou Madalena
Sou menina
Sou dama
Sou briguenta
Sou maliciosa
Sou diva
Sou birrenta
Sou mãe
Sou irmã
Sou filha
Sou força
Sou ninfeta
Sou feminina
Sou a que apanha
Sou a que chora
Sou a que bate
Sou amor
Sou dor
Sou de verdade
Sou travesti
Sou prostituta
Sou santa
Sou dessas
Sou daquelas
Sou tantas...

quarta-feira, 6 de março de 2013

INFERNO ASTRAL

Quando dei por mim, já estava diante de uma caverna. Lembro quase nada do acidente... Apesar do intenso calor e um rosnado assustador que vinha de dentro, uma força invisível me impelia a seguir. Parei em frente a um imenso portal com um letreiro no alto: Primeiro Círculo do Inferno.

O Portal abriu-se. O calor aumentou e o rosnado também. Um pequeno diabo veio em minha direção, deu-me as boas-vindas e disse-me que ali seria o meu lugar, onde ficaria por toda a eternidade. Disse-me também que a partir de então, teria uma tarefa. Quando questionado por mim sobre o que seria essa tarefa o encarnado assobiou longa e agudamente. Ao fim do assobio, percebi que havia chamado o emissor do rosnado assustador.

Mesmo que me fosse permitido sair do Inferno, não conseguiria, pois estava paralisado. Não era somente o fato de ser um animal de uns dez metros de altura, com corpo de cachorro e possuir três cabeças. Mas sim, de que em cada cabeça, ao invés de ser a cabeça de um cachorro [em consonância com o corpo], na verdade, eram as cabeças das minhas três ex-esposas! E as três cabeças falavam ao mesmo tempo. Reclamando! Cada uma em seu momento mais insuportável.

Marcela, a primeira esposa, queixava-se de que nós não saíamos o tanto quanto ela queria. Que eu não ganhava o bastante para sustentar os seus “pequenos” luxos. E precisava de mais roupas e joias.
Adriana, a segunda, gritava que estava sentindo o cheiro de outra mulher em mim. “Perfume barato”, berrava. E queria saber quem era a sirigaita [ela ainda usa esse termo?!] com quem eu estava. Falava também que eu não pensava em outra coisa senão traí-la.
Ursula, a última, chorava e entre soluços acusava-me de não dar a devida atenção que ela merecia. Que minha indiferença a magoava. Preferia meus amigos a ela. E sabia que nunca a amei.

Ouvindo essas três cabeças no corpo de um cachorro [animal que nunca gostei!], dei-me conta que acabara de deparar-me com meu maior pesadelo. Só que a situação era bem pior, pois eu não estava dormindo para ser um pesadelo e conforme informara-me o maldito diabrete, eu ficarei aqui por todo o sempre.

O infeliz deu-me uma coleira tripla presa a uma única alça e também uma vara. Explicou que a tarefa seria colocar a coleira na fera. Desejou-me sorte e saiu.

O imenso monstro olhou-me bem fundo nos olhos e, nesse momento, percebi que as três tinham o mesmo olhar. Fiquei imaginado se todas as outras mulheres também eram parecidas. Tentei lembrar de Alice [minha atual namorada – quando eu era vivo, é claro!], mas não consegui mais do que um par de olhos brilhando porque estava diante daquela bolsa de grife modelo único. Esforcei-me um pouco mais e recorri à Leandra [primeira namorada], mas tudo que lembrei foi que seus olhos estavam sempre vermelhos – não parava de se drogar um instante –, e só falava que éramos a esperança para mudar o país.

Enquanto eu divagava, o Cérbero-Ex-Esposas se aproximou. Ergui a vara e elas [ele?] pararam de chofre. Pensei então que não seria tão difícil assim executar tal empresa. Mas ao ver a coleira, voltaram os gritos, reclamações e choros. O que, misturado, mais parecia com um rosnado demoníaco.

Antes que eu percebesse, Marcela abocanhou-me [sempre a mais ávida por destruir-me das três!]; e em seguida Ursula arrancou-me o braço esquerdo; e com sua bocarra com imensos dentes à mostra, Adriana desferiu um golpe violento contra mim. Em seguida, as três mordiam-me ao mesmo tempo e meu último pensamento foi se eu poderia morrer. Depois tudo ficou escuro. Achei que estivesse morrendo – novamente.

Acordei sendo atingido por uma vara veloz e impiedosa. Era o maldito diabrete quem dava as varadas. Reclamava que não podia estar dormindo enquanto ainda tinha uma tarefa a cumprir. Foi quando dei-me conta que estava com o corpo reconstituído. Aquilo pareceu ser normal ao diabrete, pois ele não deu a mínima e mandou-me ir atrás do cruel monstro e colocar-lhe a coleira. Fui.

Não andei muito e encontrei a besta. Esta, por sua vez, quando viu-me, tinha os três pares de olhos brilhando de satisfação e malícia. Correu em minha direção e novamente lá estava eu em sua boca. Ou melhor, em suas bocas.

Fui estraçalhado outra vez. “Morri” outra vez.

Acordei e meu corpo estava mais uma vez intacto. Foi então que entendi que isso fará parte da nossa convivência. Eu tentando adestrá-las. Elas despedaçando-me. Nada muito diferente da nossa vida conjugal e pós-divórcio...