Ela já nem sabe mais o que é dormir à noite. Tem que sair cedo, antes de escurecer, pois quanto mais cedo sair de casa, mais coisas irá encontrar e assim ganhar mais dinheiro. Se é que centavos a mais dá para chamar de “mais dinheiro”.
Veste sua roupa, calça um tênis surrado que achou outro dia, pega sua carroça e sai. A noite ainda não começou, mas o sol já está tingindo o céu de laranja, anunciando o fim da mais um dia.
Já na primeira esquina ela encontra uma boa quantidade de plásticos. “Hoje vai ser bom!”, pensa. Continua sua jornada pelas ruas da cidade, parando aqui e ali, analisando cada saco de lixo na esperança de encontrar algo que sirva.
Às quatro da manhã, a sua carroça já está cheia e ela, muito cansada. Não se considera uma velha, tem apenas cinqüenta anos, mas teve uma vida de sofrimento e trabalho duro – desde criança – o que lhe faz sentir como se o corpo tivesse cem anos.
Fazendo a última rota já pensando em ir para casa, passa por um supermercado e vê alguns papelões no lixo. Resolve apanhá-los. “Um dinheirinho a mais”, reflete.
Quando está separando os papelões, vê que entre os sacos de lixo tem um saco diferente, feito de pano. Pegou o saco e ao abrí-lo sentiu como se um raio a tivesse atingido. Não conseguia acreditar no que via. Dentro do saco tinha uma quantia de dinheiro que ela não conseguiria contar no primeiro momento. Apertou o saco contra o peito, olhou para cima e agradeceu: “Obrigado Senhor! Tinha certeza que hoje ia ser bom!”.
Após o momento de êxtase, percebeu que o saco tinha uma figura, e que a figura era a mesma da placa do supermercado, então se deu conta que aquele dinheiro pertencia ao supermercado. Pensou sobre o que deveria fazer. Mesmo sem ter idéia do valor exato, sabia que com aquele dinheiro pagaria todas as contas e ainda sobraria algum para ficar sem preocupações por um bom tempo.
Se preparava para colocar o saco dentro da carroça quando lembrou que tinha uma vizinha que trabalhava naquele supermercado, então, também como um raio, foi atingida pela grande verdade: apesar daquele dinheiro ser do riquíssimo dono do supermercado, com certeza, algum funcionário – pobre como ela –, por descuido, fez com que aquela quantia fosse parar no lixo. Engolindo a frustração de ser ver rica apenas por um breve momento, resolveu esperar o supermercado abrir para devolver o dinheiro. Sentou na calçada e esperou.
Enquanto esperava, se alegrou por ser uma pessoa honesta, e se o dono do supermercado percebesse o mesmo, com certeza ficaria muito grato e lhe daria uma recompensa. Como era muito dinheiro que tinha naquele saco, então, seria uma imensa recompensa!
Quando o dono chegou no supermercado, ela se aproximou e pediu para falar com ele. Ele com um misto de desconfiança e impaciência disse-lhe que falasse logo, pois tinha pressa. Ela mostrou o saco com dinheiro e contou-lhe toda a história. No mesmo momento ele pegou o saco de suas mãos e a convidou para entrar.
Em sua sala, ele começou a enaltecer a honestidade daquela mulher e para mostrar que estava profundamente agradecido lhe daria uma recompensa.
Chamou o responsável pelo caixa, pediu que ele guardasse o dinheiro no cofre e disse-lhe que depois conversariam sobre o ocorrido e que, “cabeças rolariam”.
- Agora vamos à sua recompensa. – disse voltando-se para aquela mulher.
Abriu uma gaveta e de lá de dentro tirou quatro notas de cinqüenta reais, entregou-lhe e pediu que saísse, pois ainda tinha muito o que fazer.
Ela, agradecida, pegou os duzentos reais – o valor de sua honestidade – e foi para casa pensando: “Eu sabia que hoje seria um dia bom!”
( * ) Texto inspirado em notícia no jormal da semana passada.
Recompensa de R$ 200Catadora acha R$ 40 mil no lixo e devolve a donoCatadora de lixo achou R$ 40 mil no lixo de um supermercado e devolveu o dinheiro ao dono do estabelecimento. Ela ganhou R$ 200 de recompensa e gastou parte do dinheiro no próprio supermercado, onde comprou refrigerantes. Com o restante, a mulher disse que pagaria dívidas.
segunda-feira, 9 de março de 2009
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