segunda-feira, 29 de outubro de 2007

CAIXINHA DE RECORDAÇÕES

Ela sabia que não devia mais sofrer assim, mas insistia. Sempre mexendo nas gavetas a procura do álbum para poder olhar só mais uma vez aquele sorriso, pelo qual era apaixonada. “É a última vez”, dizia ela, mas nunca era, e ela sabia que não. Do fundo da gaveta retirou a “Caixinha de Recordações”. Fora esse o nome que ele dera à caixa ao presenteá-la no Dia dos Namorados, o primeiro Dia dos Namorados deles.
“Nossa, isso já faz tanto tempo!” Sempre dizia isso ao lembrar que já fazia anos que ganhara aquela caixinha, e ela (a caixa), cumprira com louvor o seu papel, pois guardava as mais belas recordações deles.
Na verdade, a caixa é uma ponte para a sua memória, pois nela está encerrado apenas bilhetes com juras de amor eterno, alguns brincos e anéis, fotografias (as mais “raras”, que não poderiam ser colocadas no álbum), cartas e outros objetos que, para ela, têm valor sentimental.

Todas as tardes, como num ritual, ela olhava o álbum “pela última vez”, depois abria com muito cuidado a caixinha, sempre no mesmo horário. Era a hora que ele, estivesse onde estivesse, ligava para ela para dizer “eu te amo pra sempre!”, e ao abrir aquela caixa, cofre de coisas maravilhosas, fiel dos seus segredos, ela era inundada por uma sensação de paz infinita e lembranças adoráveis. Lembranças que chegavam de uma em uma, tornando o seu dia melhor.
Namoraram anos, depois casaram, tiveram lindos filhos. Diziam que eles formavam um belo casal, o mais apaixonado que existia, e sem dúvida eram. Tinham uma cumplicidade ímpar, um entendia o que o outro desejava apenas com o olhar.
Mas um dia, ele a deixou. Todos pensaram que ela não fosse suportar, até ela mesma pensou isso. Mas com a ajuda do álbum e de sua caixinha, sobreviveu, porém sempre sofre ao perceber que essa felicidade não retornará.
Depois da partida – ela sempre diz “partida”, jamais morte – do seu amado, ela perdeu muito do vigor, da beleza juvenil, do brilho no olhar. Costumava dizer que há muito já não vivia, apenas existia.

Era chegada à hora de se despedir das lembranças e voltar para o cruel mundo real. Um mundo que ela dizia já não fazer parte, e às vezes, chegava a desejar com ansiedade a sua “partida”, pois voltaria a encontrar o seu amor, e só assim seria feliz novamente.
Fechou o álbum, olhando mais uma vez o sorriso dele, pegou a caixinha com tanto cuidado, que parecia levar uma criança em seus braços. Sussurrou dentro da caixa um “eu também te amo pra sempre!”, e fechou a tampa devagar, fechando ali, a sua felicidade.

3 comentários:

Letchi disse...

tão linda...


:~

Nanda Soares® disse...

A primeira vez que eu vi esse texto no seu perfil, eu quase chorei!
E por incrivel que pareça, msm já o conhecendo e sabendo o final dele, mais uma vez a emoção bateu mais forte.
E sabe, isso não se faz com as amigas, eu tenho um projeto pra apresentar aos meus chefes em 10 minutos.
Seu malvado!
srsrsrsr

Texto perfeito Dil!

Marina S. Pereira disse...

Nossa...eu chorei aqui...

tanta coisa passou na cabeça ao mesmo tempo...e acabei chorando...

lindo d+