quarta-feira, 17 de outubro de 2007

[PRIMEIRO] ENCONTRO

Ele olhava de um lado para o outro, estava bastante nervoso. Usava um terno muito bonito, o cabelo penteado, a barba espessa estava impecavelmente bem aparada, muito cheiroso – como sempre – e muito nervoso também.
A esperava no mesmo restaurante e na mesma mesa. Deu uma gorjeta à banda para que tocasse uma música, a mesma que eles dois ouviram no primeiro encontro. Fazia anos que não se viam. Namoraram no início da juventude, mas tiveram que seguir caminhos diferentes e perderam contato.
Há alguns dias, ele estava em uma loja de chocolates. Olhava para os chocolates suíços, pois lembrava que eram os preferidos dela.
Uma senhora se aproxima e pega alguns chocolates ao leite, ele olha para o lado e a reconhece.
“É ela!”, disse para si, ainda atordoado por ver ao seu lado, o seu grande amor.
Apesar da força do tempo se expressando através de suas rugas, ela conservava a mesma beleza de outrora.
Sem pensar direito, seguiu em sua direção.

- Você gostava dos amargos. - disse para ela.
- Desculpe-me, o senhor falou comigo?
- Você, pelo que me lembro, embora faça bastante tempo, sempre gostou dos amargos.
- O senhor me conhece?!
- Sou eu, não se lembra mais? Estou tão velho e feio assim, é?

Ela o fitou por alguns segundos. Quando olhou para aquele meio sorriso com dentes perfeitamente alinhados e brancos e um olhar intenso, começou a recordar. E vieram-lhe as mais belas lembranças de sua juventude, do quanto se encantava com aquele sorriso e o quanto aquele olhar mexia com ela. E, mesmo com os olhos emoldurados pelas rugas, ainda permaneciam intensos.

- É você! Nossa, eu não acredito!
- Pois é. Nem eu estou acreditando.

Deram um longo abraço. Se dependesse dele, jamais a soltaria, não queria que fosse embora como da última vez. Fazia força para não chorar, mas estava em um vendaval de sentimentos, e ela como sempre, firme. Não parecia estar sentindo nada além da alegria em revê-lo.
Porém, isso era o que ele pensava, pois ela passou anos sofrendo por ter decido partir.
Terminado o longo abraço, permaneceram de mãos dadas, um olhando para o outro, sem trocar uma palavra. Precisavam de tempo para se acostumar com suas “novas” aparências. Depois desse silêncio necessário, resolveram quebrá-lo.

- Me diga como você está, além, de linda como sempre, é claro!
- Obrigada pelo elogio! Vou bem, graças a Deus. Voltei pra cá há alguns meses e hoje resolvi comprar uns chocolates para os meus netos.
- Ah, então você casou!
- Pois é. Mas estou viúva há nove anos.
- Hum.
- E você, casou?
- Não, não casei.
- Nossa, é de admirar, pois sempre foi tão bonito, como é que nenhuma garota conseguiu laçar o seu coração?
- Porque ele já não estava mais comigo, já tinha uma dona que o levou com ela.

Ela baixou a cabeça, ficou um pouco desconcertada, tentou dizer algo, mas as palavras se perderam antes de chegar à boca. Quis dizer que foi preciso tomar aquela decisão, que mesmo o amando precisava seguir o seu próprio caminho, e que também sofreu com aquela decisão, mas não conseguiu dizer nada disso.

- Desculpe-me, é que está sendo tudo muito estranho para mim, e você sabe que sempre quero ter a última palavra, mas não foi minha intenção em constrangê-la.
- Tudo bem. Eu sei que tenho minha parcela de culpa na nossa história.
- “Nossa história”... “nossa história”... É estranho ouvir isso assim, pois não partilho a minha história com alguém faz muito tempo. Na verdade, nunca partilhei com mais ninguém, desde que você partiu... Mas... Deixemos isso de lado, são coisas passadas e é lá que devem ficar. Olha, eu preciso ir, mas quero dizer que é um prazer imenso revê-la e, apesar das coisas que falei, não tive a real intenção em machucá-la, é só dor-de-cotovelo de um velho caduco.
- Não, tudo bem. Para mim, também foi muito bom te ver. E se você aceitar, eu gostaria de jantar com você qualquer dia desses.
- Claro, vou adorar! Pegue o meu número, e ligue quando quiser. Tchau!
- Vou ligar. Tchau!

Agora, lá estava ele, olhando de um lado para o outro, bastante nervoso.
Ela apareceu na entrada do restaurante. “Anda com a mesma leveza e beleza de quando era garota!”, pensou ele.
Em um lindo vestido verde, com um belo penteado e maquiagem. Como que flutuando, ela se aproxima.
Ele olhava para ela e via a jovem por quem fora perdidamente apaixonado, e ainda o era.
Aproximou-se da mesa, ele se levantou, beijou sua mão e puxou a cadeira para ela sentar.

- Demorei?
- Quarenta anos.
- Bobo.

Os dois ficaram conversando, rindo e relembrando todos os momentos maravilhosos que viveram juntos.
E a noite passou por eles como as noites de outrora, e vendo que já tinham que se despedir, eles ficaram em silêncio por um tempo, apenas gravando aquele momento e aproveitando tudo para torná-lo inesquecível e guardá-lo junto com todos os outros momentos bons.

- Bom, então é hora de dizer “tchau”.
- É.

Abraçaram-se com toda força que tinham. Os dois começaram a chorar e tentavam, naquele abraço, recuperar todo o tempo perdido.
Despediram-se, mas desta vez, foi um “até amanhã!” e não um “adeus!”.

4 comentários:

Laïse disse...

Já aprendi a reconhecer seus textos na primeira linha...
:)

Laïse disse...

Isso é um auto-elogio à minha capacidade de percepção! Não é crítica ao seu texto >=(


Assim até me ofendo, Dan...

Letchi disse...

bocó
juro q qd eu ver q o texto é teu nao vou mais ler! ¬¬
me lavo chorando..


¬¬

Renata disse...

lindo
:)